O velho pássaro cansado chega à beira do abismo.
Com suas patas fraquejando de tanto caminhar, as asas esquecidas de voar,
Pára no último pedaço de chão que precipita a queda, e, por um instante, pondera:
Uma única escolha a aceitar.
Num último mergulho de fé, com a gota da coragem de quem sabe que não tem pra onde escapar, se entrega numa queda espiralada rumo ao desconhecido.
Enquanto cai, com o pavor e a confiança de quem desprende a vida vivida até ali, deixa-se arrancar até a última pena.
Sentindo perder-se na infinitude, solta com vontade e alívio a capa antiga que recobria seu corpo.
Por um instante, percebe-se nu e frágil, no limiar de uma profunda metamorfose.
Quem sabe o que renascerá desta morte?
Num lampejo, dá-se conta, e toda sua vida passa diante de seus olhos.
Entende que está pronto.
Aceita a transformação, e, numa arfada de luz, entraja sua verdadeira veste.
Ascendendo como quem se agarra na vida pelo devir de viver, a grande Fênix emerge do abismo num voo coroado.
Renascida em si,
Já não há limites para seu voar.
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